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quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Entrevista exclusiva ao meteorologista Luís Serrano

Quando é que começou o interesse pela meteorologia?

    "Começou há 42 anos em Moçambique, na região central daquela ex-colónia, na cidade da Beira, situada no litoral, cidade onde nasci, estudei e cresci; tinha 18 anos e precisava de um emprego, na altura estudava no Instituto Industrial para um dia ser Engº Mecânico e, claro, no início, nunca passou pela minha cabeça vir a ser meteorologista; andava no curso de Electrotecnia e Máquinas naquele Instituto, tendo interrompido depois devido à tropa e ao 25 de Abril. Só voltei a estudar de novo, e para acabar a licenciatura em Engenharia Geográfica na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa mais tarde, já em Portugal, após o fim da descolonização e após, também, uma comissão de 8 anos nos Açores, no aeródromo da Ilha do Pico; saí de Moçambique em 1983, 8 anos após a sua Independência, e cheguei a Portugal em 1991 vindo dos Açores. Já como Engº Geógrafo, e para ascender na carreira concorri ao Estágio para a formação de Meteorologistas superiores (no antigo INMG que antecedeu o IM e que hoje é IPMA) estágio que durou 2 anos, pelo que a minha formação académica e profissional tem um somatório de 7 anos de ensino superior. Sendo Meteorologista, trabalhei na Previsão do Tempo (meteorologia geral) no IM e, nos últimos anos da minha carreira, trabalhei como Meteorologista aeronáutico, fazendo parte do Grupo de meteorologistas aeronáuticos do IPMA, responsáveis pelas Previsões de Aeródromo dos principais aeroportos do país, num trabalho de 24 sobre 24 horas, acrescida ainda da VMA - Vigilância Meteorológica Aeronáutica), garantindo assim em permanência a segurança da aviação em todo o espaço aéreo português.
     Mas voltando ao início, aos meus 18 anos na Beira, concorri então ao lugar de Observador Meteorológico no Centro Meteorológico, sito no Aeroporto da Beira, e começou para mim, de facto, para além do emprego que me garantia um salário, uma actividade sempre muito interessante e motivante, quer trabalhasse de dia, quer de noite, pois trabalhei quase sempre por turnos. Como Observador Meteorológico executava (observava e registava, portanto) naquela Estação as observações horárias ou semi-horárias, dos vários parâmetros meteorológicos (vento, tempo presente, nuvens, temperaturas, humidade, ponto de orvalho, pressão atmosférica, etc.) necessários para diagnosticar o tempo "presente", e que iriam sustentar também a previsão do tempo, isto é, prognosticar o tempo "futuro". Ali, naquele Centro Meteorológico na torre do grande aeroporto da Beira, executei observações de superfície de todo o tipo, sinópticas, climatológicas e aeronáuticas, em que cada tipo exigia um parâmetro específico; por exemplo, a temperatura do solo não interessa para a aeronáutica mas interessa para a Climatologia. Também as temperaturas mínimas e máximas não interessam particularmente à aeronáutica, mas interessam para o público e para a climatologia do lugar, as temperaturas a várias profundidades do solo, bem como a temperatura mínima na relva interessam à Agricultura. Também efectuei muitas observações de altitude (efectuadas à superfície), as chamadas sondagens aerológicas (com lançamento de um balão piloto que era perseguido por um teodolito óptico, ou por um radar), tudo para calcular-se a intensidade e a direcção do vento às várias altitudes standard da troposfera. Mais tarde efectuei rádio-sondagens (na estação de Benfica, próximo do aeroporto de Mavalane, Maputo, com um Rádio-teodolito), e também constava do lançamento de um balão (muito maior) transportando uma rádio-sonda que transmitia sistematicamente um sinal rádio (captado pelo Rádio-teodolito que o acompanhava), de minuto a minuto os parâmetros P,T,U (Pressão, Temperatura e Humidade) observados naquele momento, e logo registado, e àquela altura, logo medida e registada. A direcção e a intensidade do vento também eram calculadas ao mesmo tempo pelo movimento da rádio-sonda. Acabada a radiosondagem efectuava-se o preenchimento do diagrama Termodinâmico da atmosfera daquela hora e data, e daquele local, os mais célebres conhecidos por Tefigrama e Skew T - Log P, este último o mais generalizado para a previsão, e em especial sobre um aeródromo, porque representa uma análise a 3D da troposfera sobre o aeródromo, além de poder constituir uma previsão à escala local, (por exemplo, a sequência dos Tefigramas previstos para as próximas 3, 6, 9,… 72 horas), típica da área ocupada por um aeroporto. Saliente-se que o triplo P,T,U permite obter também as altitudes do geopotencial, as altitudes a que estão os diferentes níveis de pressão, e a altimétrica. É muito interessante que depois de construir os diagramas termodinâmicos, como Observador, os analisei mais tarde para a previsão do tempo como Meteorologista, depois de formado.

       De referir também que esta actividade da Aerologia em Moçambique foi muito gratificante para mim, pois reabri as estações de balão-piloto de Inhambane, Quelimane, Tete e Pemba, nos princípios da década de 80, ensinando os funcionários moçambicanos, primeiro a produzir o próprio hidrogénio para encher os balões, e lançá-los, depois a orientar o teodolito, a efectuar as ditas sondagens com a perseguição do balão (inclusivé à noite) e depois o cálculo, a projecção, a codificação e a transmissão dos pontos da sondagem. Com isto passei a conhecer praticamente Moçambique de norte a sul.
     Sempre trabalhei em Aeroportos, e como já disse, numa primeira fase como Observador - em que a maioria das minhas observações eram destinadas à aeronáutica - e numa segunda fase, como meteorologista, em que a maioria das minhas previsões foram destinadas à aeronáutica. Tal como um marinheiro que chega um dia a almirante (em analogia), sinto orgulho em ter começado de baixo e chegar ao topo, tendo trabalhado ao longo da(s) 2 carreira(s) com uma panóplia grande de instrumentos meteorológicos (e também dado frequentemente formação aos mais novos), em vários locais e vários aeroportos, quer no Hemisfério Sul quer no do Norte, quer em região Tropical, quer em região Temperada.
     Por outro lado, e o que me tem motivado sempre na Meteorologia, foram os vários Cursos que tirei e que me deram uma capacidade de programar de tal forma que estou preparado para a Previsão Numérica, que é sem dúvida o futuro de toda e qualquer Previsão do Tempo, a qualquer escala e para qualquer local do Globo; com efeito, o tempo de marcar (marquei centenas de cartas como Observador), e o de traçar as cartas (tracei dezenas de cartas como Meteorologista) para as analisar e fazer a Previsão do Tempo já lá vai, hoje tudo é feito automaticamente pelos computadores que traçam as várias isolinhas e desenham e constroem os vários Campos referentes aos Parâmetros que se desejam para a Previsão; a super grande mais valia da automatização, com o uso intensivo dos computadores e das suas excelentes capacidades e saídas gráficas, está no tempo ganho pelos Centros de Previsão, mas mantendo ainda hoje a exigência do(s) meteorologista(s) terem de analisar e compreender os processos contidos nas isolinhas; (isto continua a exigir técnicos, os Meteorologistas, qualificados para o acto de previsão, com formações académicas e estágios bem estruturados em Matemática e Física). Com efeito, aquelas isolinhas têm uma razão para estarem assim desenhadas, pois representam processos físicos da atmosfera e é dali, daquelas configurações, que sairá a antevisão para as horas seguintes do comportamento da atmosfera, ou seja uma previsão do Tempo para as próximas 6, 12, 18,…, 72 horas, e mais horas, actualmente até aos 10 dias (240 horas). À laia de confidência, é ideia minha, mesmo reformado e com 60 anos (um jovem…!), tirar um doutoramento em Modelos Numéricos de Previsão tendo em vista a Previsão Numérica automática e automatizada dos TAFs (nome das previsões de aeródromo) que sejam elaboradas automaticamente à distância, fundamental para África, para os seus aeródromos muito distantes e isolados. A principal dificuldade não será o tempo mas sim o valor das propinas, que é excessivo. Mas vou à luta, parar é morrer.

O que o fascina em meteorologia?

    Há 2 coisas que mais me fascinam em Meteorologia, a primeira, numa postura de observação do que nos rodeia, em especial num dia de tempestade, num dia de invernia, é verificar as transformações de energia (a energia que vem toda do Sol) que acontecem na troposfera produzindo as nuvens, a trovoada, os relâmpagos, os grandes aguaceiros, e mais distante as auroras; fascinam-me as trocas de energia que produzem as tais nuvens de muito grande desenvolvimento vertical (num processo hidro-termo-dinâmico muito perfeito e rápido, que é o mecanismo da Convecção). Nos Trópicos estas nuvens podem chegar aos 20-23 km de altura, as nuvens “cumulonimbus” (as chamadas “storm clouds”) que transportam tremendas quantidades de água potencialmente precipitável, originando quase sempre enxurradas imediatas, locais, causando mortes e desalojando dezenas senão centenas ou mesmo milhares de pessoas; ainda agora a escrever este artifo ouço a notícia de 30 mortes ocorridas em Angola devido à Convecção, (o período das chuvas actual – correspondente ao ano hidrológico 2013/2014, que vai de Outubro a Abril) isto é, devido às trovoadas – aos raios e às enxurradas.
       Em segundo lugar, e já numa postura de previsão do tempo, é o grande desafio da(s) incerteza(s) que as previsões nos trazem, o erro ainda é muito grande, apesar dos modelos actuais que nos apoiam para a Previsão serem e estarem cada vez melhores e fiáveis. A abordagem do problema terá de ser feita com o máximo cuidado e conhecimento da coisa (a experiência aqui também conta e muito), uma má análise (o diagnóstico) agora, é o ponto de partida para uma má previsão (o prognóstico) a seguir; mas estar a fazer Previsão na expectativa de se acertar, e logo estar a fazer um bom trabalho para a Comunidade – a meteorologia tem de proteger a vida e os bens das pessoas – dá um gozo, uma satisfação interior sem medida; como o produto final é uma previsão ainda pessoal, 2 pessoas 2 previsões, próximas é certo, mas não totalmente iguais; tal como um ensemble, a melhor previsão (média) será aquela que “retratará o melhor possível a situação que ocorrerá”. Assim, mantém-se o fascínio da Meteorologia, pois ainda não é fácil. Com efeito, os Modelos de Previsão são físico-matemáticos, ou seja, o(s) modelo(s) comporta(m) uma “física” dentro deles (de vez em quando dá-se-lhes um retoque, uma actualização, do albedo por exemplo) que melhor descrevem a radiação dos vários tipos de solos, as advecções (o transporte dos parâmetros), os gradientes, as velocidades, as acelerações, etc., tudo através de equações diferenciais (que não têm solução imediata, terão de ser aproximadas por métodos finitos estas soluções) e a “matemática” que as resolve, através do cálculo de milhões e milhões de operações de aproximação às soluções das equações diferenciais do tempo. Acresce ainda a aplicação ao processo duma “estatística” climatológica que fará a filtragem das saídas, comparando os valores com um histórico climatológico, eliminando os valores saídos/previstos ditos “absurdos”. Tudo isto ainda leva muitas horas actualmente, mas à medida que os computadores vão aumentando as suas capacidade de cálculo, o tempo de espera vai diminuindo.

Há quanto tempo trabalha no Instituto do Mar e da Atmosfera?

    O IPMA (Instituto do Mar e da Atmosfera) é um Instituto constituído recentemente, há não mais do que 2 anos e resultou da fusão do IPIMAR com o IM. Antes do IM existia o INMG (Instituto Nacional de Meteorologia e Geofísica). Como vim do antigo SMM (Serviço Meteorológico de Moçambique), através do Adidos fui colocado no INMG em 1977, portanto, há 36 anos mas, para efeitos de aposentação contou também o tempo de África e no total, como se disse, foram 42 anos efectivos de trabalho (dos meus 18 aos 60 anos de idade) mas, com 45 anos de descontos para a CGA.  

Gosta mais de apresentar o tempo quando prevê chuva ou Sol?
  
      Para mim, como Meteorologista foi sempre indiferente, menos trabalho de preparação talvez quando a situação caminhava para um tempo de Sol, o que é sempre mais agradável, porque menos preocupante; com efeito, a previsão para dias de chuva implica e exige muito mais trabalho de preparação anterior à apresentação (1 ou 2 horas antes usualmente), pois há sempre o cuidado para que nada falhe, nada seja esquecido de se dizer, as apresentações são em directo, não há lugar para falhas, gralhas ou erros (nem tempo para corrigir “o que foi dito… está dito”); repito, todo o profissional de meteorologia diz e apresenta com agrado e prazer tanto um tempo de Sol, como um tempo de chuva, nisso não fiz qualquer diferença. O importante, e foi sempre a minha preocupação, é que as pessoas (os telespectadores) entendessem o que se estava a prever para o(s) dia(s) seguinte(s); ou seja, que a situação seria ou preocupante (mau tempo) e tomassem providências, se defendessem, ou não seria preocupante e desenvolvessem portanto as suas actividades sem preocupação de maior. Infelizmente esta mensagem nem sempre foi bem entendida. Com previsões de tempo severo pessoas houveram que foram atingidas e fustigadas por ele havendo casos fatais.

Prefere o calor ou o frio?

       Prefiro o calor sem dúvida, primeiro porque não suporto o frio tão bem como o calor, segundo porque sendo nascido em Moçambique a minha “paisagem de referência”, desde a infância e até aos 29 anos, é de um tempo quente, tropical, só com duas Estações no ano, a época das chuvas (quente e húmida) e a época seca, do cacimbo, com noites frias, de céu limpo dia e noite, sem chover dias e dias. Por outro lado, sinto uma necessidade enorme de Sol, este tempo húmido e frio, de chuva fraca ou chuvisco (às vezes bastante ventoso também) é um tempo doentio para mim e deprime-me sobremaneira (não esquecer que o Sol faz segregar a hormona serotonina responsável pela boa disposição), mas as Estações do ano têm que se cumprir e o Inverno está aí a rodar ainda por uns meses.

Qual foi o fenómeno climático mais extremo que já viu?

     Houveram vários fenómenos extremos a que assisti (e observei), como não podia deixar de ser ao longo de 42 anos nesta profissão na Meteorologia; dois dos fenómenos extremos, que aconteceram nos anos de 1978 e 1979, ocorreram em Moçambique, estava eu no Maputo e de serviço, quando uma trovoada severa desabou sobre o aeroporto e a cidade precipitando “aguaceiros fortes de saraiva acompanhados de trovoada”, durante cerca de 15 minutos. Como é usual numa pós-trovoada, e depois daquele tempo, a nuvem dissipou-se ficando um céu pouco nublado, com muito Sol, mas muitas pedras de gelo de grandes dimensões – a saraiva – caídos nas estradas e por cima dos carros do aeroporto à cidade (que ficaram todos com mossas) num perfeito cenário surrealista. Causou muito estrago esta queda de saraiva, felizmente não houveram vítimas na cidade, mas os telhados dos armazéns do Porto do Maputo ficaram todos perfurados, lembrando uma. Foi a única vez que observei, codifiquei e registei aquela observação de saraiva (granizo cujo diâmetros ultrapassa os 5 mm) forte com trovoada. Na véspera, naquele Centro de Previsão já suspeitava de que poderia no dia seguinte, 24 horas depois, convecção severa a afectar a região. Lembro-me ainda do valor do CAPE (Potencial Energy Avaiable for Convection) ou energia disponível para convecção calculado no Tefigrama do dia anterior, que foi de 2300 e tal J/kg.
      A segunda situação foi a de um período de calor de 3 dias; não configurando uma onda de calor, foram no entanto 3 dias de calor muito intenso, não muito usual no Maputo, em que as temperaturas máximas foram aos 44ºC.. À nossa volta, nas árvores, em especial na cidade, muitos pardais caíram ao chão mortos ali mesmo. Isto resultou de uma circulação ciclónica lenta e persistente, que transportou durante aqueles dias e noites ar muito quente dos desertos do Namibe (Angola) e do Calahari (Mamíbia) resultando numa corrente de N-NW continental fraca a moderada que chegou ao Maputo. 
       Em Portugal, o fenómeno extremo a que assisti e me surpreendeu sobremaneira pois, nunca tinha vivido tal situação, foi a onda de calor de Julho de 2003; já tinha vivido dias de temperaturas e máximas a rondar e a ultrapassar os 40ºC, em Tete mas, uma situação persistente como esta onda de calor foi para mim surpreendente, e revelou-se mortífera. Afinal, novas conclusões se têm tirado com a maior frequência destes fenómenos extremos – “morre muito mais gente devido às ondas de calor instaladas num região do que com os furacões que passam num local ou região”).

Acha que Portugal é um país monótono em termos de fenómenos meteorológicos?


       Não, Portugal não é um país monótono em termos de fenómenos meteorológicos, e nem poderia ser. Isto porque Portugal e as Ilhas estão situados nas chamadas latitudes médias. Sendo assim, e atendendo às trocas de calor estabelecidas entre as regiões Polares e as regiões Equatoriais, trocas de calor sustentadas pela Circulação Geral da Atmosfera, pela Rotação e Translacção da Terra, o AR FRIO das regiões polares “desce” em depressões e vales, e também nas Frentes Frias, em direcção ao Equador, e o AR QUENTE das regiões equatoriais “sobe” em Anticiclones e cristas, e também nas Frentes Quentes,  em direcção aos Pólos. Em termos do comportamento médio da temperatura do nosso planeta, podemos ver que nas regiões polares (90º) temos uma permanência de ar geralmente frio; nas regiões equatoriais (0º) temos uma permanência de ar geralmente quente; logo, nas regiões intermédias (45º) – latitudes médias - temos a alternância do ar quente que “sobe” e do ar frio que “desce” no espaço de poucos dias. Daí a concluirmos que o termo tempo meteorológico mais variável aplica-se, portanto, às latitudes médias, logo não será mesmo nada monótono;

Considera importantes os projectos de meteorologia amadora como, por exemplo, o Meteo@lentejo ou o Meteo Montijo?

      Considero muito importantes estes projectos sim senhor, e até essenciais para fechar o Ciclo informativo e disseminativo das Previsões elaboradas no IPMA, e dos Avisos e Alertas difundidos pela Protecção Civil.
O que se deseja afinal? Que a informação útil de “mau tempo previsto”, por exemplo, chegue a todas as pessoas no Continente e nas Ilhas, e que todas as pessoas tenham, recebam, compreendam, assimilem e tomem precauções, alterem, modifiquem as rotinas, se necessário for, em face desta informação de Serviço Público, enfim que se defendam e protejam (e na verdade também para valer a pena este trabalho e custos da previsão, convenhamos); como se sabe, a divisa da OMM, no ano passado, foiA vigilância meteorológica permanente para a protecção das vidas e bens de todas as pessoas” (este tema até fez parte do programa comemorativo do dia da Meteorologia daquele ano, no dia 23 de Março). Ora, acabado o trabalho de previsão efectuado pelos meteorologistas de serviço, dia e noite, no IPMA, segue-se a tarefa de transmitir e divulgar para o público estas mesmas previsões e, atempadamente (através dos vários e muitos meios à disposição); tem-se verificado que a primeira parte deste vector – digamos, tem sido cumprido em Portugal (e no estrangeiro também, diga-se de passagem), as previsões são boas, saem do IPMA a tempo e horas, os vários e muitos meios de comunicação à disposição funcionam bem e têm interesse em que assim seja, mas verifica-se que a segunda parte do vector está enfraquecida, falha frequentemente; o que falha em minha opinião? Muitas pessoas por várias razões não têm, ou não tiveram conhecimento de…, e houve, aconteceu, um tempo péssimo; frequentemente, as pessoas com prejuízos devido ao mau tempo dizem…”mas eu não sabia !!!”, e mais, “mas eu não calculava que isto seria assim….!!! Repare-se nestas duas expressões, na primeira a informação decididamente não chegou ao destino, na segunda ela pode até ter chegado ao destino mas… não foi compreendida!; faltam aqui mais meios a informar da(s) situação(ões) previstas de mau tempo, do tempo severo, e faltam mais pessoas que saibam, que gostam de meteorologia para descodificar os termos, os avisos, os valores que estão contidos nas previsões. Por exemplo, o que significará “trovoada forte”? Ora, não há trovoadas “fracas” a própria trovoada é uma TEMPESTADE e tudo o que isso possa representar, umas vezes mais fracas, outras fortíssimas, e as nuvens que as produzem, são nuvens da tempestade, as “storm clouds” como dizem os ingleses; podem realizar-se eventos ou festinhas nestas condições previstas? Num Verão, no Norte, aconteceu uma festa numa colina, houve trovoada à tarde, rajadas fortíssimas de vento (da “gust front”) à passagem da trovoada, alguns andaimes desprenderam-se e morreu uma pessoa. O que falhou aqui? A informação não foi “descodificada”, partindo do princípio de que pelo menos a informação tenha chegado e que foi ouvida,… mas não foi compreendida de facto, porque as pessoas não se defenderam.  Há mais exemplos da interrupção (ou não chegada_ou não compreendida) da informação da previsão no vector origem_ destino. E também no estrangeiro, um dos casos mais flagrantes e caso bastante recente, aconteceu nas Filipinas com a chegada e a passagem do tufão “Hayan” por algumas das ilhas daquele Arquipélago; se um houve fenómeno meteorológico monitorado desde a semana anterior, acompanhado, previsto, com hora de chegada e tudo, foi de facto este Tufão; mesmo assim, morreram mais de 8 000 pessoas e a devastação foi total em algumas ilhas, noutras ilhas mais ligeira. Nitidamente, a informação pode não ter chegado às pessoas mais distantes e isoladas no Arquipélago, mas muitas mais próximas simplesmente não compreenderam que ventos de até 300 km/h, que varreram o Arquipélago em alguns locais, varrem e destroem mesmo tudo.

     Assim, terminada esta introdução, é óbvia a necessidade de haver ainda mais meios de comunicação ao serviço da Meteorologia, mais pessoas envolvidas na tarefa da disseminação e descodificação das Previsões, mais rádios e televisões locais a falar nisso, mais televisões a apresentar Boletins bem feitos como devem ser (bastando às vezes alterar ligeiramente os gráficos e grafismos) e mais apresentações de meteorologia em televisão, nas grandes e nas pequenas televisões locais, porque não? Afinal trata-se de Serviço Público, que está sendo feita de forma gratuita e muito louvável, pelo menos, pela Meteo@lentejo e Meteo Montijo, mas há mais site de meteorologia e de gente jovem, promissora. Estes jovens têm muito valor e devem ser acarinhados  e incentivados a prosseguir no seu trabalho.
    Por outro lado, quer o Met Office inglês, quer o IPMA português, ou o Serviço Meteorológico alemão e muitos outros Serviços Meteorológicos de todo o mundo, estão a apostar fortemente nas Redes Sociais para a melhor disseminação da sua informação, e quanto mais pessoas numa atitude de “quanto mais pessoas lerem e souberem melhor”, menos fatalidades haverão, é a postura actual destes Serviços; por outro lado ainda, quanto à parte do vector: descodificação também se espera que as Rádios locais interessadas (até para captar mais audiências, é indiscutível que o tema “meteorologia” cativa), e todos os jovens interessados, sabedores de meteorologia, que gostam de meteorologia, quiçá futuros meteorologistas, e agrupados nestes sites possam dar o seu contributo na sensibilização das pessoas de que a Meteorologia é linda mas, às vezes, é mazinha e magoa, fere e mata mesmo. Compete-lhes também, em paralelo com os organismos públicos evitar a perda de vidas e bens.


Muito obrigado.