Quando é
que começou o interesse pela meteorologia?
"Começou
há 42 anos em Moçambique, na região central daquela ex-colónia, na cidade da
Beira, situada no litoral, cidade onde nasci, estudei e cresci; tinha 18 anos e precisava de um emprego, na
altura estudava no Instituto Industrial
para um dia ser Engº Mecânico e, claro, no início, nunca passou pela minha
cabeça vir a ser meteorologista; andava no curso de Electrotecnia e Máquinas
naquele Instituto, tendo interrompido depois devido à tropa e ao 25 de Abril. Só voltei a estudar de
novo, e para acabar a licenciatura em Engenharia Geográfica na Faculdade de
Ciências da Universidade de Lisboa mais tarde, já em Portugal, após o fim da
descolonização e após, também, uma comissão de 8 anos nos Açores, no aeródromo da Ilha do Pico; saí de Moçambique em 1983, 8 anos após a sua Independência, e cheguei a Portugal em 1991 vindo dos Açores. Já como Engº
Geógrafo, e para ascender na carreira concorri ao Estágio para a formação de Meteorologistas
superiores (no antigo INMG que antecedeu o IM e que hoje é IPMA)
estágio que durou 2 anos, pelo que a minha formação académica e profissional tem
um somatório de 7 anos de ensino
superior. Sendo Meteorologista, trabalhei na Previsão do Tempo (meteorologia
geral) no IM e, nos últimos anos da
minha carreira, trabalhei como Meteorologista aeronáutico, fazendo parte do
Grupo de meteorologistas aeronáuticos do IPMA, responsáveis pelas
Previsões de Aeródromo dos principais aeroportos do país, num trabalho de 24
sobre 24 horas, acrescida ainda da VMA - Vigilância Meteorológica Aeronáutica), garantindo assim em
permanência a segurança da aviação em todo o espaço aéreo português.
Mas voltando ao início, aos meus 18 anos
na Beira, concorri então ao lugar de Observador
Meteorológico no Centro Meteorológico, sito no Aeroporto da Beira, e
começou para mim, de facto, para além do emprego que me garantia um salário,
uma actividade sempre muito interessante e motivante, quer trabalhasse de dia,
quer de noite, pois trabalhei quase sempre por turnos. Como Observador
Meteorológico executava (observava e registava, portanto) naquela Estação as
observações horárias ou semi-horárias, dos vários parâmetros meteorológicos (vento, tempo presente, nuvens,
temperaturas, humidade, ponto de orvalho, pressão atmosférica, etc.) necessários
para diagnosticar o tempo "presente", e que iriam sustentar também a
previsão do tempo, isto é, prognosticar o tempo "futuro". Ali,
naquele Centro Meteorológico na torre do grande aeroporto da Beira, executei
observações de superfície de todo o tipo, sinópticas,
climatológicas e aeronáuticas, em que cada tipo exigia
um parâmetro específico; por exemplo, a temperatura do solo não interessa para
a aeronáutica mas interessa para a Climatologia. Também as temperaturas mínimas
e máximas não interessam particularmente à aeronáutica, mas interessam para o
público e para a climatologia do lugar, as temperaturas a várias profundidades
do solo, bem como a temperatura mínima na relva interessam à Agricultura. Também
efectuei muitas observações de altitude (efectuadas
à superfície), as chamadas sondagens aerológicas (com lançamento de um balão
piloto que era perseguido por um teodolito óptico, ou por um radar), tudo para calcular-se
a intensidade e a direcção do vento às várias altitudes standard da troposfera. Mais tarde efectuei rádio-sondagens (na
estação de Benfica, próximo do
aeroporto de Mavalane, Maputo, com um Rádio-teodolito), e também
constava do lançamento de um balão (muito maior) transportando uma rádio-sonda
que transmitia sistematicamente um sinal rádio (captado pelo Rádio-teodolito
que o acompanhava), de minuto a minuto os parâmetros P,T,U (Pressão, Temperatura e
Humidade) observados naquele momento, e logo registado, e àquela altura, logo
medida e registada. A direcção e a intensidade do vento também eram
calculadas ao mesmo tempo pelo movimento da rádio-sonda. Acabada a
radiosondagem efectuava-se o preenchimento do diagrama Termodinâmico da
atmosfera daquela hora e data, e daquele local, os mais célebres conhecidos por
Tefigrama e Skew T - Log P, este último o mais generalizado para a previsão, e
em especial sobre um aeródromo, porque representa uma análise a 3D da troposfera sobre o aeródromo,
além de poder constituir uma previsão à escala
local, (por exemplo, a sequência dos Tefigramas previstos para as próximas 3, 6,
9,… 72 horas), típica da área ocupada por um aeroporto. Saliente-se que
o triplo P,T,U permite obter também as
altitudes do geopotencial, as altitudes a que estão os diferentes níveis de
pressão, e a altimétrica. É muito interessante que depois de construir os
diagramas termodinâmicos, como Observador,
os analisei mais tarde para a previsão do tempo como Meteorologista, depois de formado.
De referir também que esta actividade da
Aerologia em Moçambique foi muito gratificante
para mim, pois reabri as estações de balão-piloto de Inhambane, Quelimane, Tete e Pemba, nos princípios da década de 80, ensinando os funcionários moçambicanos, primeiro a produzir o
próprio hidrogénio para encher os balões, e lançá-los, depois a orientar o
teodolito, a efectuar as ditas sondagens com a perseguição do balão (inclusivé
à noite) e depois o cálculo, a projecção, a codificação e a transmissão dos
pontos da sondagem. Com isto passei a conhecer praticamente Moçambique de norte a sul.
Sempre
trabalhei em Aeroportos, e como já disse, numa primeira fase como Observador - em que a maioria das
minhas observações eram destinadas à aeronáutica - e numa segunda fase, como
meteorologista, em que a maioria das minhas previsões foram destinadas à
aeronáutica. Tal como um marinheiro que chega um dia a almirante (em analogia),
sinto orgulho em ter começado de baixo e chegar ao topo, tendo trabalhado ao
longo da(s) 2 carreira(s) com uma
panóplia grande de instrumentos meteorológicos (e também dado frequentemente formação
aos mais novos), em vários locais e vários aeroportos, quer no Hemisfério Sul quer no do Norte, quer em região Tropical, quer em região Temperada.
Por outro lado, e o que me tem motivado
sempre na Meteorologia, foram os vários Cursos que tirei e que me deram uma
capacidade de programar de tal forma que estou preparado para a Previsão Numérica,
que é sem dúvida o futuro de toda e
qualquer Previsão do Tempo, a qualquer escala e para qualquer local do Globo; com
efeito, o tempo de marcar (marquei centenas de cartas como Observador),
e o de traçar as cartas (tracei dezenas de cartas como Meteorologista)
para as analisar e fazer a Previsão do Tempo já lá vai, hoje tudo é feito
automaticamente pelos computadores que traçam as várias isolinhas e desenham e constroem os vários Campos referentes aos Parâmetros que se desejam para a Previsão; a super
grande mais valia da automatização,
com o uso intensivo dos computadores e das suas excelentes capacidades e saídas
gráficas, está no tempo ganho pelos Centros de Previsão, mas mantendo ainda
hoje a exigência do(s) meteorologista(s) terem de analisar e compreender os processos
contidos nas isolinhas; (isto
continua a exigir técnicos, os Meteorologistas, qualificados para o acto de previsão, com formações académicas
e estágios bem estruturados em Matemática e Física). Com efeito, aquelas isolinhas têm uma razão para estarem
assim desenhadas, pois representam processos
físicos da atmosfera e é dali, daquelas configurações, que sairá a
antevisão para as horas seguintes do comportamento da atmosfera, ou seja uma
previsão do Tempo para as próximas 6,
12, 18,…, 72 horas, e mais
horas, actualmente até aos 10 dias (240 horas). À laia de confidência, é
ideia minha, mesmo reformado e com 60
anos (um jovem…!), tirar um doutoramento em Modelos Numéricos de Previsão tendo em vista a Previsão Numérica automática
e automatizada dos TAFs (nome das previsões
de aeródromo) que sejam elaboradas automaticamente à distância, fundamental
para África, para os seus aeródromos muito distantes e isolados. A principal
dificuldade não será o tempo mas sim o valor das propinas, que é excessivo. Mas
vou à luta, parar é morrer.
O que o fascina em meteorologia?
Há 2
coisas que mais me fascinam em Meteorologia, a primeira, numa postura de
observação do que nos rodeia, em especial num dia de tempestade, num dia de
invernia, é verificar as transformações de energia (a energia que vem
toda do Sol) que acontecem na troposfera produzindo as nuvens, a
trovoada, os relâmpagos, os grandes aguaceiros, e mais distante as auroras;
fascinam-me as trocas de energia que produzem as tais nuvens de muito grande
desenvolvimento vertical (num processo hidro-termo-dinâmico muito
perfeito e rápido, que é o mecanismo da Convecção). Nos Trópicos estas
nuvens podem chegar aos 20-23 km de altura, as nuvens “cumulonimbus”
(as chamadas “storm clouds”)
que transportam tremendas quantidades de água potencialmente precipitável,
originando quase sempre enxurradas imediatas, locais, causando mortes e
desalojando dezenas senão centenas ou mesmo milhares de pessoas; ainda agora a
escrever este artifo ouço a notícia de 30 mortes ocorridas em Angola devido à Convecção,
(o período das chuvas actual – correspondente ao ano hidrológico 2013/2014,
que vai de Outubro a Abril) isto é, devido às trovoadas – aos raios e às enxurradas.
Em
segundo lugar, e já numa postura de previsão do tempo, é o grande desafio
da(s) incerteza(s) que as previsões nos trazem, o erro ainda é muito grande,
apesar dos modelos actuais que nos apoiam para a Previsão serem e estarem cada
vez melhores e fiáveis. A abordagem do problema terá de ser feita com o máximo
cuidado e conhecimento da coisa (a experiência aqui também conta e muito), uma
má análise (o diagnóstico) agora, é o ponto de partida para uma má
previsão (o prognóstico) a seguir; mas estar a fazer Previsão na
expectativa de se acertar, e logo estar a fazer um bom trabalho para a Comunidade
– a meteorologia tem de proteger a vida e os bens das pessoas – dá um gozo, uma
satisfação interior sem medida; como o produto final é uma previsão ainda pessoal,
2 pessoas 2 previsões, próximas é certo, mas não totalmente iguais; tal como um
ensemble, a melhor previsão (média) será aquela que “retratará o melhor
possível a situação que ocorrerá”. Assim, mantém-se o fascínio da Meteorologia,
pois ainda não é fácil. Com efeito, os Modelos de Previsão são físico-matemáticos,
ou seja, o(s) modelo(s) comporta(m) uma “física” dentro deles (de vez em
quando dá-se-lhes um retoque, uma actualização, do albedo por exemplo) que
melhor descrevem a radiação dos vários tipos de solos, as advecções (o transporte
dos parâmetros), os gradientes, as velocidades, as acelerações, etc., tudo
através de equações diferenciais (que não têm solução imediata, terão de ser
aproximadas por métodos finitos estas soluções) e a “matemática” que as
resolve, através do cálculo de milhões e milhões de operações de aproximação às
soluções das equações diferenciais do tempo. Acresce ainda a aplicação ao
processo duma “estatística” climatológica que fará a filtragem das
saídas, comparando os valores com um histórico climatológico, eliminando os
valores saídos/previstos ditos “absurdos”. Tudo isto ainda leva muitas horas
actualmente, mas à medida que os computadores vão aumentando as suas capacidade
de cálculo, o tempo de espera vai diminuindo.
Há quanto tempo trabalha no Instituto do Mar e da Atmosfera?
O IPMA (Instituto do Mar e da Atmosfera) é um
Instituto constituído recentemente, há não mais do que 2 anos e resultou
da fusão do IPIMAR com o IM. Antes do IM existia o INMG
(Instituto Nacional de Meteorologia e
Geofísica). Como vim do antigo SMM (Serviço Meteorológico de Moçambique), através do Adidos fui
colocado no INMG em 1977, portanto, há 36 anos mas, para
efeitos de aposentação contou também o tempo de África e no total, como se
disse, foram 42 anos efectivos de trabalho (dos meus 18 aos 60
anos de idade) mas, com 45 anos de descontos para a CGA.
Gosta mais de apresentar o tempo quando prevê chuva ou Sol?
Para mim, como Meteorologista foi sempre
indiferente, menos trabalho de preparação talvez quando a situação caminhava
para um tempo de Sol, o que é sempre mais agradável, porque menos preocupante;
com efeito, a previsão para dias de chuva implica e exige muito mais trabalho
de preparação anterior à apresentação (1 ou 2 horas antes usualmente), pois há
sempre o cuidado para que nada falhe, nada seja esquecido de se dizer, as
apresentações são em directo, não há lugar para falhas, gralhas ou erros (nem
tempo para corrigir “o que foi dito… está dito”); repito, todo o
profissional de meteorologia diz e apresenta com agrado e prazer tanto um tempo
de Sol, como um tempo de chuva, nisso não fiz qualquer diferença. O
importante, e foi sempre a minha preocupação, é que as pessoas (os
telespectadores) entendessem o que se estava a prever para o(s) dia(s)
seguinte(s); ou seja, que a situação seria ou preocupante (mau tempo) e
tomassem providências, se defendessem, ou não seria preocupante e desenvolvessem
portanto as suas actividades sem preocupação de maior. Infelizmente esta
mensagem nem sempre foi bem entendida. Com previsões de tempo severo pessoas
houveram que foram atingidas e fustigadas por ele havendo casos fatais.
Prefere o calor ou o
frio?
Prefiro
o calor sem dúvida, primeiro porque não suporto o frio tão bem como o calor, segundo
porque sendo nascido em Moçambique a minha “paisagem de referência”, desde a
infância e até aos 29 anos, é de um tempo quente, tropical, só com duas Estações
no ano, a época das chuvas (quente e húmida) e a época seca, do cacimbo, com
noites frias, de céu limpo dia e noite, sem chover dias e dias. Por outro lado,
sinto uma necessidade enorme de Sol, este tempo húmido e frio, de chuva
fraca ou chuvisco (às vezes bastante ventoso também) é um tempo doentio para
mim e deprime-me sobremaneira (não esquecer que o Sol faz segregar a hormona serotonina responsável pela boa
disposição), mas as Estações do ano têm que se cumprir e o Inverno está aí a
rodar ainda por uns meses.
Qual foi o
fenómeno climático mais extremo que já viu?
Houveram vários fenómenos
extremos a que assisti (e observei), como não podia deixar de ser ao longo de 42
anos nesta profissão na Meteorologia; dois dos fenómenos extremos, que
aconteceram nos anos de 1978 e 1979, ocorreram em Moçambique,
estava eu no Maputo e de serviço, quando uma trovoada severa desabou
sobre o aeroporto e a cidade precipitando “aguaceiros fortes de saraiva acompanhados de trovoada”, durante
cerca de 15 minutos. Como é usual numa pós-trovoada, e depois daquele tempo,
a nuvem dissipou-se ficando um céu pouco nublado, com muito Sol, mas muitas
pedras de gelo de grandes dimensões – a saraiva – caídos nas estradas e
por cima dos carros do aeroporto à cidade (que ficaram todos com mossas) num
perfeito cenário surrealista. Causou muito estrago esta queda de saraiva,
felizmente não houveram vítimas na cidade, mas os telhados dos armazéns do
Porto do Maputo ficaram todos perfurados, lembrando uma. Foi a única vez
que observei, codifiquei e registei aquela observação de saraiva (granizo
cujo diâmetros ultrapassa os 5 mm) forte com trovoada. Na véspera,
naquele Centro de Previsão já suspeitava de que poderia no dia seguinte, 24
horas depois, convecção severa a afectar a região. Lembro-me ainda do valor do CAPE
(Potencial Energy Avaiable for Convection)
ou energia disponível para convecção calculado no Tefigrama do dia anterior,
que foi de 2300 e tal J/kg.
A segunda situação foi a de
um período de calor de 3 dias; não configurando uma onda de calor, foram
no entanto 3 dias de calor muito intenso, não muito usual no Maputo, em que as
temperaturas máximas foram aos 44ºC.. À nossa volta, nas árvores, em
especial na cidade, muitos pardais caíram ao chão mortos ali mesmo. Isto resultou
de uma circulação ciclónica lenta e persistente, que transportou durante
aqueles dias e noites ar muito quente dos desertos do Namibe (Angola) e
do Calahari (Mamíbia) resultando numa corrente de N-NW
continental fraca a moderada que chegou ao Maputo.
Em Portugal, o fenómeno
extremo a que assisti e me surpreendeu sobremaneira pois, nunca tinha vivido
tal situação, foi a onda de calor de Julho de 2003; já tinha
vivido dias de temperaturas e máximas a rondar e a ultrapassar os 40ºC, em Tete
mas, uma situação persistente como esta onda de calor foi para mim
surpreendente, e revelou-se mortífera. Afinal, novas conclusões se têm tirado
com a maior frequência destes fenómenos extremos – “morre muito mais gente
devido às ondas de calor instaladas num região do que com os furacões que
passam num local ou região”).
Acha que Portugal é um país monótono em termos de fenómenos
meteorológicos?
Não, Portugal não é
um país monótono em termos de fenómenos meteorológicos, e nem poderia ser. Isto
porque Portugal e as Ilhas estão situados nas chamadas latitudes médias.
Sendo assim, e atendendo às trocas de calor estabelecidas entre as regiões Polares
e as regiões Equatoriais, trocas de calor sustentadas pela Circulação Geral da
Atmosfera, pela Rotação e Translacção da Terra, o AR FRIO das regiões polares
“desce” em depressões e vales, e também nas Frentes Frias, em direcção ao
Equador, e o AR QUENTE das regiões equatoriais “sobe” em Anticiclones e cristas,
e também nas Frentes Quentes, em
direcção aos Pólos. Em termos do comportamento médio da temperatura do nosso
planeta, podemos ver que nas regiões polares (90º) temos uma permanência de ar
geralmente frio; nas regiões equatoriais (0º) temos uma permanência de ar
geralmente quente; logo, nas regiões intermédias (45º) – latitudes médias -
temos a alternância do ar quente que “sobe” e do ar frio que “desce” no espaço
de poucos dias. Daí a concluirmos que o termo tempo meteorológico mais
variável aplica-se, portanto, às latitudes médias, logo não será mesmo nada
monótono;
Considera importantes os projectos de meteorologia amadora como, por
exemplo, o Meteo@lentejo ou o Meteo Montijo?
Considero muito importantes
estes projectos sim senhor, e até essenciais para fechar o Ciclo informativo e
disseminativo das Previsões elaboradas no IPMA, e dos Avisos e Alertas
difundidos pela Protecção Civil.
O que se deseja afinal? Que a informação útil de “mau tempo previsto”,
por exemplo, chegue a todas as pessoas no Continente e nas Ilhas, e que todas
as pessoas tenham, recebam, compreendam, assimilem e tomem precauções, alterem,
modifiquem as rotinas, se necessário for, em face desta informação de Serviço
Público, enfim que se defendam e protejam (e na verdade também para valer a
pena este trabalho e custos da previsão, convenhamos); como se sabe, a divisa
da OMM, no ano passado, foi
“A vigilância meteorológica permanente
para a protecção das vidas e bens de todas as pessoas” (este tema até fez
parte do programa comemorativo do dia da Meteorologia daquele ano, no dia 23 de Março). Ora, acabado o trabalho
de previsão efectuado pelos meteorologistas de serviço, dia e noite, no IPMA, segue-se a tarefa de transmitir e
divulgar para o público estas mesmas previsões e, atempadamente (através dos
vários e muitos meios à disposição); tem-se verificado que a primeira parte
deste vector – digamos, tem sido cumprido em Portugal (e no estrangeiro também,
diga-se de passagem), as previsões são boas, saem do IPMA a tempo e horas, os vários e muitos meios de comunicação à
disposição funcionam bem e têm interesse em que assim seja, mas verifica-se que
a segunda parte do vector está enfraquecida, falha frequentemente; o que falha
em minha opinião? Muitas pessoas por várias razões não têm, ou não tiveram
conhecimento de…, e houve, aconteceu, um tempo péssimo; frequentemente, as
pessoas com prejuízos devido ao mau tempo dizem…”mas eu não sabia !!!”, e mais, “mas eu não calculava que isto seria assim….!!! Repare-se nestas
duas expressões, na primeira a informação decididamente não chegou ao destino, na segunda ela pode até ter chegado
ao destino mas… não foi compreendida!;
faltam aqui mais meios a informar
da(s) situação(ões) previstas de mau tempo, do tempo severo, e faltam mais pessoas que saibam, que gostam de
meteorologia para descodificar os
termos, os avisos, os valores que estão contidos nas previsões. Por exemplo, o
que significará “trovoada forte”?
Ora, não há trovoadas “fracas” a
própria trovoada é uma TEMPESTADE e tudo o que isso possa representar, umas
vezes mais fracas, outras fortíssimas, e as nuvens que as produzem, são nuvens
da tempestade, as “storm clouds” como dizem os ingleses; podem realizar-se eventos
ou festinhas nestas condições previstas? Num Verão, no Norte, aconteceu uma
festa numa colina, houve trovoada à tarde, rajadas fortíssimas de vento (da “gust
front”) à passagem da trovoada, alguns andaimes desprenderam-se e
morreu uma pessoa. O que falhou aqui? A informação não foi “descodificada”, partindo do princípio de que pelo menos a informação tenha chegado
e que foi ouvida,… mas não foi compreendida de facto, porque as pessoas não se
defenderam. Há mais exemplos da
interrupção (ou não chegada_ou não compreendida) da informação da previsão no
vector origem_ destino. E também no estrangeiro, um dos casos mais flagrantes e
caso bastante recente, aconteceu nas Filipinas com a chegada e a passagem do
tufão “Hayan” por algumas das ilhas
daquele Arquipélago; se um houve fenómeno meteorológico monitorado desde a
semana anterior, acompanhado, previsto, com hora de chegada e tudo, foi de
facto este Tufão; mesmo assim, morreram mais de 8 000 pessoas e a devastação foi total em algumas ilhas, noutras
ilhas mais ligeira. Nitidamente, a informação pode não ter chegado às pessoas
mais distantes e isoladas no Arquipélago, mas muitas mais próximas simplesmente
não compreenderam que ventos de até 300
km/h, que varreram o Arquipélago em alguns locais, varrem e destroem mesmo
tudo.
Assim, terminada esta introdução, é óbvia a necessidade de haver ainda
mais meios de comunicação ao serviço da Meteorologia, mais pessoas envolvidas
na tarefa da disseminação e descodificação das Previsões, mais
rádios e televisões locais a falar nisso, mais televisões a apresentar Boletins bem feitos como devem ser
(bastando às vezes alterar ligeiramente os gráficos e grafismos) e mais
apresentações de meteorologia em televisão, nas grandes e nas pequenas
televisões locais, porque não? Afinal trata-se de Serviço Público, que está
sendo feita de forma gratuita e muito louvável, pelo menos, pela Meteo@lentejo e Meteo
Montijo, mas há mais site de meteorologia e de gente jovem,
promissora. Estes jovens têm muito valor e devem ser acarinhados e incentivados a prosseguir no seu trabalho.
Por outro lado, quer o Met
Office inglês, quer o IPMA português, ou o Serviço Meteorológico
alemão e muitos outros Serviços Meteorológicos de todo o mundo, estão a apostar
fortemente nas Redes Sociais para a melhor disseminação da sua informação,
e quanto mais pessoas numa atitude de “quanto
mais pessoas lerem e souberem melhor”,
menos fatalidades haverão, é a postura actual destes Serviços; por outro lado
ainda, quanto à parte do vector: descodificação também se espera que as Rádios locais interessadas (até para captar mais audiências,
é indiscutível que o tema “meteorologia” cativa), e todos os jovens
interessados, sabedores de meteorologia, que gostam de meteorologia, quiçá
futuros meteorologistas, e agrupados
nestes sites possam dar o seu contributo na sensibilização das pessoas de que a
Meteorologia é linda mas, às vezes,
é mazinha e magoa, fere e mata mesmo. Compete-lhes também, em paralelo com os
organismos públicos evitar a perda de
vidas e bens.
Muito obrigado.
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